domingo, 30 de março de 2008

TERÇA, 1 ABRIL 18:00, - ASSEMBLEIA DE TODOS OS MOVIMENTOS E CIDADÃOS PORTO

Na Terça-feira, dia 1 de Abril, às 18:00, vai haver uma assembleia geral de todos os movimentos e cidadãos do Porto, (constituída pela Plataforma de intervenção Cívica) na "Beneficiência Familiar- Associação Mutualista".
Situa-se em frente ao Bolhão da porta da rua Formosa.

Vão ser discutidos acções futuras para o Mercado do Bolhão e outros equipamentos na cidade.

O Movimento Cívico e Estudantil vai estar presente.
Apareçam e divulguem, é importante que o Porto seja uma cidade participativa!

Até breve!

quinta-feira, 27 de março de 2008

Participem no debate sobre esta Causa! Amanhã, conferência de imprensa dos movimentos


Queremos levar o Bolhão às pessoas, dar a conhecer ainda melhor este espaço vivo e com um enorme potencial latente. Para esse efeito, informamos que a Plataforma de Intervenção Cívica do Porto, vai inaugurar amanhã, no Orfeão do Porto, na Praça da Batalha, dia 28 de Março pelas 18:30H-20:00H, uma Exposição sobre o percurso do Mercado do Bolhão, onde inclui o projecto de reabilitação de 1998 do arquitecto Joaquim Massena, aprovado pela Câmara do Porto, IPPAR e todas as entidades, seguindo-se um ciclo de debates nas próximas quintas feiras, dias 3 de abril e 10 de abril, no mesmo local. O ciclo de conferências, nas quintas feiras consequentes, contará com a presença de personalidades ligadas à vida Social, Cultural e Económica, do País e do Mundo. Oportunamente divulgaremos os respectivos convidados.
Vamos dar voz ao Bolhão.

Apareçam e divulguem esta iniciativa!

sexta-feira, 21 de março de 2008

BOLHÃO CHEGA AO PARLAMENTO NA TERÇA

Notícia publica hoje, 21 Março 2008, no Jornal de Notícias.

Comissão do Poder Local irá, brevemente, começar a ouvir todos os intervenientes na requalificação do Mercado do Bolhão, no Porto. "A lei impõe-nos que tenhamos concluído um relatório, mesmo que preliminar, dentro de 60 dias. Pretendo ouvir, entre outros intervenientes, os comerciantes (do interior e do exterior) o arquitecto Joaquim Massena [autor de um projecto de reabilitação do mercado], a Câmara do Porto e os representantes da TramCroNe [empresa holandesa que irá recuperar o Bolhão]", revelou, ao JN, o deputado socialista Fernando de Jesus, relator da Comissão do Poder Local.

"Se verificarmos", prosseguiu, "que há algum constrangimento legal, poderemos recomendar medidas que impeça a concretização do projecto".

Na próxima terça-feira, representantes do Movimento Cívico em Defesa do Bolhão vão ser ouvidos, na Assembleia da República, por deputados de todos os partidos com representação parlamentar.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Entrevista ao arquitecto Joaquim Massena (P.Janeiro)

Joaquim Massena, arquitecto autor do projecto de reabilitação do Mercado do Bolhão, encomendado em 1998 pela C.M.Porto, em entrevista ao P.Janeiro:

(fotogr. retirada do artigo)

Porque que é que é tão necessário proceder a uma intervenção no Mercado do Bolhão?
Mercado do Bolhão tem, neste momento, alguns problemas construtivos. Há anomalias na estrutura, que são conhecidas desde, creio eu, 1987. E também não tem as condições necessárias para o uso que está a ter. É preciso reparar sob o ponto de vista das infra-estruturas. Isto é fundamental. Naturalmente que é também fundamental preservar o património humano e arquitectónico. A intervenção que vier a ser feita aqui tem que ser quase como quando alguém está a mexer numa porcelana de grande valor. É preciso ter muito cuidado e não se pode ter uma atitude bruta.

O seu projecto que em 1998 foi aprovado pela Câmara do Porto e pelo então IPPAR, ia nesse sentido?
Em 1996 o Mercado do Bolhão ainda não era um edifício classificado, estava em vias de classificação. E embora não fosse classificado, a minha preocupação já ia no sentido da preservação do património.

O facto de ter feito um projecto de reabilitação para o Mercado do Bolhão não lhe tira objectividade quando aborda o assunto?

Não, não tira. Como calcula eu falo de arquitectura, e a arquitectura é tudo. É reabilitação, é urbanismo, é economia, é estrutura, é tudo. Por isso, quando penso em arquitectura estou a pensar em tudo. É perfeitamente absurdo que alguém pense que quando se fala de arquitectura se está a falar de uma coisa abstracta. Não! Pensar na arquitectura é pensar na vida.

Em relação ao seu projecto. Foi aberto um concurso público pela Câmara do Porto e o seu projecto ganhou. Naturalmente que havia uma série de preceitos que teve que respeitar. A defesa do património foi um deles?
A defesa de alguns elementos patrimoniais. O edifício não estava classificado.
Mas mesmo sem estar classificado, a câmara, na altura, já tinha preocupações com o património?
Sim, já tinha algumas preocupações. Vou-lhe explicar. Tínhamos um valor para gastos estimados nas obras de cerca de quatro milhões de contos. Quando vim para o local fiz uma série de testes e análises. Foi um trabalho saturado e que envolveu uma equipa muito grande, que fez avaliações do betão, do ferro, do reboco, do subsolo e da estrutura. A preocupação de defesa do património reduziu o orçamento em quase um milhão e meio de contos. A câmara queria que se fizessem três caves, nós só projectamos duas porque achamos que a terceira iria fragilizar a estrutura. Tínhamos uma determinada área para as caves e tivemos que a reduzir porque senão fragilizava todo o imóvel. Enfim, são aspectos com os quais tivemos muito cuidado, sempre com a preocupação de não descaracterizar o mercado. Temos cerca de 18 mil metros quadrados de mercado. Com um orçamento de 2,5 milhões de contos sai a cento e poucos contos o metro quadrado. Quer dizer que é muito barato. E isto acontece porque não existe demolição. Não me podem dizer que o meu projecto não é economicamente viável.

E porque é que o seu projecto não foi para a frente? Porque a câmara não tem dinheiro?
Não, não acredito nisso. A câmara tem um orçamento tão grande… repare, esta seria uma obra de dois anos, o que quer dizer que, na pior das hipóteses, a câmara iria gastar 1,5 milhões de contos por ano. Sendo que o rendimento do mercado está garantido porque a câmara tem rendas garantidas. Atendendo à garantia que há da renda privada, a câmara recuperava o investimento em 30 anos…

Acredita que o Bolhão vai ser demolido?
Totalmente demolido! A única coisa que vai ficar são as paredes interiores. Depois, vão ser construídos um conjunto de pisos intermédios e lá em cima uma cobertura. A fachada vai ser demolida, não tenhamos ilusões. Para falar de património é preciso ter muito respeito.

Qual é, concretamente, a importância patrimonial do Bolhão?
É a mesma, por exemplo, da Assembleia da República. O hemiciclo, onde estão os deputados, tem um pé direito muito alto. Era mais rentável fazer uma série de pisos. E não se fazem porque? Porque se perde património. O património é todo aquele conjunto e o que ele representa sob o ponto de vista humano, para as gerações presentes e para as futuras. Que nos fornece um conjunto de imagens e de passagens que nos permitem continuar a dizer que temos identidade. Quando falamos de património estamos a falar de valores que não são mensuráveis em euros.O Bolhão foi um edifício que andou 30 ou 40 anos à frente do seu tempo. Na altura, o comércio era feito na rua. O arquitecto Correia da Silva, autor do projecto do Bolhão, esteve a cursar em França e trouxe para cá este modelo. O Bolhão é um mercado neo-clássico monumental, que tem uma linguagem arquitectónica muito característica, que usa o betão e o ferro. O arquitecto pensou ainda noutra coisa. Estávamos no período áureo da indústria e era preciso escoar os produtos industriais. É assim que aparecem as lojas exteriores, e este mercado é inovador também por isso.

Acha que o projecto da TCN não teve o património em conta.
Não, não teve. Eu mal vi o projecto, ou aquilo que foi dado a conhecer, percebi que se tratava de uma coisa violentíssima. Aquilo é uma obra de fachadismo e mesmo o fachadismo vai ter que ir abaixo. Vai ser uma obra muito onerosa e vão dizer que é mais barato demolir e voltar a construir. Só que a originalidade acabou porque a originalidade não vê pela numeração das pedras, vê-se por tudo.

Se é possível fazer uma obra de reabilitação salvaguardando o património por que é que acha que fizeram o projecto desta maneira?
Dá mais dinheiro. Repare, 50 milhões de euros é diferente de 12, 5 milhões. Se fizermos uma conta simplista é fácil verificar. Cinquenta milhões de euros a 10 por cento dá um valor, 12, 5 milhões a 10 por cento dá outro. Logo, é mais favorável, do ponto de vista do negócio, que tenha muita obra. Por que é que há especulação imobiliária? O projecto que eu desenvolvi é rentável sob o ponto de vista económico. O Bolhão dá 380 mil euros por ano actualmente, mesmo com esta confusão…

A lei que protege o património edificado é muito clara quando diz que nada pode ser alterado ou modificado. Acha que o projecto da TCN vai ser chumbado no Igespar?
Eu acho que o Igespar tem um capital humano magnífico. As pessoas que lá estão são extraordinariamente conhecedoras. Não creio que, das pessoas que conheço, por força do trabalho que tenho desenvolvido na área do restauro, que o Igespar aprove esta situação porque ela violenta qualquer um.

Acha que um mercado de frescos tão grande como o Bolhão continua a fazer sentido?
Acima de tudo temos cá dois aspectos que temos que cuidar. Perceber que a qualidade do alimento é, e vai continuar a ser, uma preocupação. E é em locais como este que se vende o alimento de qualidade. Se o mercado fosse reabilitado, mantendo as suas características, o número de comerciantes aumentava. O projecto que eu fiz é para 440 comerciantes. Actualmente são 170. Eu criei aqui no Bolhão espaço de exposição, de encontros, e para espaços âncora que promovam a indústria.

Como é que acha que vai acabar este processo?
Acho que vai acabar bem. Sabe, eu sou um homem de esperança…

sábado, 15 de março de 2008

Concurso de Fotografia

Foi lançado hoje, um concurso de fotografia intitulado "Rostos do Bolhão".
O objectivo é registar uma parte do Património do Mercado do Bolhão, a parte Humana.
Neste sentido, todos poderão participar no registo fotográfico de situações peculiares da vida interna do Mercado do Bolhão.

O regulamento está acessível aqui.

sexta-feira, 14 de março de 2008

"Só a verdade serve"

Na passada terça-feira, o Rivoli foi palco da "apresentação do projecto do "futuro" Mercado do Bolhão". A sessão foi patrocinada pela Associação dos Comerciantes do Mercado do Bolhão que a considerou "de carácter urgente". E tinha razão, porque, olhando para a "ordem de trabalhos" ficava-se com a sensação de que já devia ter sido urgente há muito tempo! E, sobre isso, muito haveria a dizer mas porque só pude assistir à parte da reunião que se referia ao dito "projecto" e por manifesta falta de espaço neste Passeio Público, cingir-me-ei apenas à apresentação do mesmo que foi feita pelo seu autor, arquitecto americano a trabalhar na Holanda.

De tudo quanto vi e ouvi, retirei, no essencial, o seguinte se me tivessem apresentado o "projecto", como o de um edifício a construir no local onde actualmente existe o Mercado do Bolhão para nele instalar mais um "outro mercado", eu diria que tinha muitas dúvidas quanto à vantagem para a cidade de uma iniciativa deste tipo, neste exacto momento e naquele mesmo local, mas também diria que as dúvidas seriam extensíveis à qualidade do projecto, rudimentarmente apresentado pelo seu autor.

Acontece, no entanto que o Mercado do Bolhão não é um edifício qualquer e, muito menos, um espaço devoluto. O que ainda lá está, goste-se ou não, é só um dos lugares mais emblemáticos da cidade e uma das imagens que melhor condensa e representa o seu espírito e as suas tão singulares vivências. De tal forma assim é que, para além do evidente reconhecimento colectivo daquele tão emblemático "lugar" como património de toda uma região, foi o próprio Ministério da Cultura que através dos seus órgãos próprios (IPPAR/IGESPAR), que também o reconheceu como "Imóvel de Interesse Público" e, por isso o classificou.

Mas, nada disto foi tido em consideração na apresentação do chamado "projecto" do "futuro Mercado". Desde logo, porque o seu autor se limitou a dizer (e, mesmo assim, de forma muito sumária) o que ia fazer, omitindo, em absoluto, o facto de o fazer num edifício existente, com uma vivência específica e que, por isso mesmo, está classificado e protegido. Tal condição, não lhe mereceu, de facto, qualquer consideração e, muito menos, qualquer justificação sobre o que, do seu ponto de vista, tinha (ou não) carácter patrimonial. Do ponto de vista disciplinar ou seja, do ponto de vista estritamente arquitectónico, o autor sabe, certamente, quão importante é equacionar (bem) os "problemas" para que, depois, se possam compreender as (boas) "soluções"! Mas, o que não foi claro no discurso, está bem claro nos desenhos que são (felizmente) uma linguagem universal que não precisa de tradução.

Então, a conclusão é simples o Bolhão não vale mais do que as suas quatro paredes exteriores (as fachadas?) porque, de tudo o que lá está hoje seria o que iria restar no "futuro", se para tanto houvesse engenho e arte e… orçamento! É que, manter em pé as tais quatro paredes que são, afinal, o que permite à TCN e à CMP dizer que o "Bolhão não vai ser demolido" e ao arquitecto/autor dizer que "o edifício vai ser respeitado", não é tarefa, nem simples, nem rápida, nem barata! É certo que o arquitecto americano da TCN falou em inglês da Holanda com tradução para português de Portugal pelo Senhor engenheiro da TCN mas ninguém acreditará que o problema seja uma mera questão de tradução! O que está em causa é outra coisa e essa é, no essencial, a verdade, que não é uma simples questão de "tradução".

A questão é que a cidade não dorme e, sobretudo, ainda não morreu! De contrário, já o Bolhão estaria, de facto, morto e a desaparecer por trás daquelas quatro paredes transformadas em mausoléu e dentro dele, uma boa parte da alma da cidade! Só que a cidade parece recusar deixar-se matar assim!

Manuel Correia Fernandes, arquitecto

quarta-feira, 12 de março de 2008

Apresentação do projecto TCN para o Mercado do Bolhão, foi proibida aos Jornalistas e à Cidade

Decorreu ontem, no Rivoli a apresentação do projecto da empresa imobiliária para o Mercado do Bolhão.
Foi muita a polémica que esteve em volta de toda a reunião, confirmou-se mais uma vez que nem o Património Arquitectónico, nem o Património Humano estão protegidos.

Foi distribuido, na reunião e apenas facultado aos comerciantes, um catálogo que continha as mesmas plantas, divulgadas aqui no blog, mas agora com maior detalhe, havendo um compromisso efectivo, na demolição de todo o interior do Mercado e transformação num shopping.

O Jornal Notícias refere:
"Os comerciantes do Bolhão andam a ser enganados e tanto os autores do projecto [TCN] como a Câmara do Porto têm iludido as questões essenciais", adiantou Sérgio Modesto, um comerciante que saiu antes da reunião acabar, perto das 22 horas.

O Publico refere:
"Foram quase três horas de explicações, ânimos mais ou menos exaltados, pessoas especadas à porta do Rivoli e muitas opiniões diversas. Mas poucas certezas. O encontro convocada pela Associação de Comerciantes do Mercado do Bolhão (ACMB) teve quase tudo, menos respostas concretas a muitas das perguntas que os comerciantes levavam."

"O momento mais quente aconteceu pouco antes das 20h00, quando alguns comerciantes se aperceberam de que o arquitecto Joaquim Massena, possuidor de um convite, fora impedido de entrar. Alcino Sousa, da ACMB, usara o mesmo argumento com os jornalistas: "O espaço é pequeno". Zangados, os comerciantes interromperam a exposição para questionar o colega e alguns abandonaram a sala. Sara Araújo foi um deles. "A gente não quer o senhor Alcino como representante do Bolhão, ele não nos representa", gritou.Quem conseguiu um lugar lá dentro foi o arquitecto Correia Fernandes - os restantes elementos da Plataforma de Intervenção Cívica ficaram à porta. O encontro não o fez mudar de ideias. "Tenho muita pena, o espírito do Bolhão desapareceu. Venho absolutamente espantado, como se pode dizer que o projecto respeita os critérios de recuperação do património? Não respeita."

O Primeiro de Janeiro refere:
O responsável [Pedro Neves] assegurou que o projecto que iria ser apresentado aos comerciantes é “exactamente igual” aos desenhos que todos já conhecem. “O que acontece é que hoje vamos apresentar desenhos com mais pormenores”, disse Pedro Neves. Tudo o que estava previsto no primeiro projecto continua a ser válido agora.

Projecto da TCN- empresa imobiliária:








segunda-feira, 10 de março de 2008

Artigo de João Seixas - O Mercado do Bolhão e a Cidade de Lisboa

"O Mercado do Bolhão e a Cidade de Lisboa"
artigo de João Seixas (Investigador e professor universitário)

As recentes notícias em torno da hipotética transformação do Mercado do Bolhão, no Porto, num banal centro comercial desprovido de identidade própria, gerido por uma empresa privada de promoção imobiliária, colocam em cima da mesa reflexões vitais em torno das cidades portuguesas, e da extrema falta de atenção e de respeito que temos tido por elas.O país sofre de um mal-estar difuso, a confiança nacional encontra-se minada, diz a Sedes. O PIB não arranca desde 2000. Abrem-se os jornais, vamos ao café, e as queixas e os azedumes do costume. Que se passa? Há, decerto, razões de conjuntura (nossas e globais) e há razões de estrutura (bem mais portuguesas). Mas entre todas as razões, a forma como temos tão menosprezado - política e socialmente - as nossas cidades é razão de primeira linha da nossa doença. E esta razão é cem por cento nossa. Diz-me que cidades tens, dir-te-ei quem és.

Qual tem sido o estado-da-arte das duas grandes cidades de Portugal? Numa palavra: fragmentação. Territorial, social, económica e política. Lisboa-concelho terá hoje cerca de 500 mil residentes, Porto-concelho à volta de 250 mil. Ou seja, apenas 19 e 17 por cento do total das respectivas metrópoles. A capital perdeu mais de 30 por cento da sua população em 25 anos, e 70 por cento das suas crianças - saindo, em média, 30 residentes por dia para ir morar nos concelhos limítrofes. Entretanto, e nos últimos 15 anos, o ritmo de construção na metrópole resultava numa média de 2,3 casas novas por hora! No Porto a situação não é melhor: parece que o número de residentes na Rua 31 de Janeiro, no seu centro burguês, é de... zero! A incrível desvitalização que se tem sucedido nas nossas duas maiores cidades não tem paralelo em toda a Europa urbana.Eis assim o retrato do Portugal urbano, hoje: muita urbanização e pouca cidade. A desvitalização das cidades é resultado das nossas distracções, dos nossos corporativismos, do nosso eterno fechamento e falta de cosmopolitismo. E de uma classe política que, na sua grande maioria, não percebe os grandes desafios da contemporaneidade, envolta que anda nos seus interesses e reciprocidades próprias. No entanto, basta observar os vizinhos espanhóis: tanta força, tanta produtividade, e... cidades vivas, mercados vivos e cheios, uma cidadania activa e cosmopolita.Nós cá andamos de alma inquieta.

Muito Portugal vive entre um 5.º esq. tardoz, o jogo de cintura dos empregos precários, e uma vida automóvel entre a gasolineira e o hiper mais barato, a apenas 9,99 euros o quilo. É a economia, estúpido! E esquecemos a vital importância de ter espaços urbanos que permitam um bom ritmar dos nossos entornos sociais, dos nossos encontros amicais, das nossas relações de quotidiano e, afinal, do verdadeiro relançamento da nossa economia! E agora, estaremos igualmente prestes a desligar os nossos próprios corações? O que se passa com o Mercado do Bolhão, o mítico e rijo Bolhão, coração rítmico de uma cidade alma portuguesa, e que agora falece... num banal centro comercial? Tudo isto soa demasiado a nevoeiro, a ignorância, e soa sobretudo a demissão e a não arregaçarmos as mangas como devemos."A cidade impõe-nos o terrível dever da esperança", escreveu um dia Jorge Luís Borges. Talvez seja, finalmente, tempo de tratarmos a sério de qualificar as nossas vidas nas nossas cidades. E não somente de as reabilitar, mas sim de as revitalizar. É diferente. Pode a vida, em Lisboa e no Porto e em todas as nossas cidades, afinal ser mais viva, mais diversa e mais criativa, mais próxima e mais curiosa? Claro que pode! É a qualidade de vida que temos, que define a nossa capacidade de sermos mais felizes, mais eficazes, mais competitivos, mais criativos, mais justos e mais humanos. Falo de qualidade de vida urbana.

A cidade deverá ser, finalmente, uma das grandes razões e objectos da política.Voltemos, assim, ao Bolhão: a vitalidade das cidades revela-se de forma plena nos seus mercados - espaços-espelho que são, por excelência, da sua identidade. Afinal, as primeiras cidades surgiram, há quase dez mil anos, como espaços de mercado, de troca e de intercâmbio. Daí que vermos mercados moribundos nos entristeça de particular forma. Ou que, pelo contrário, se constate que um bairro vivo, qualificado e acarinhado tenha sempre o seu mercado bem dinâmico - como acontece em Lisboa, em Campo de Ourique ou em Alvalade. O comércio com identidade é, seguramente, uma das componentes-chave da esperança na cidade.Ora no Porto, pretende-se concessionar alguns dos seus mais excelentes espaços de dinâmica e identidade pública, passando-os para os arautos da mais-valia para o dia seguinte.

Ao Bolhão, velho e doente, nem sequer pensam enviá-lo para um lar. É bem mais tragicómico que isso: querem deixá-lo na sala principal - reabilitada, evidentemente - "aquele é o avô", mas morto por dentro e de olhos taxidérmicos, azuis de vidro.Na capital, e até recentemente, a coisa não foi mais fácil. Em tempo de ditadura tiraram-nos o Mercado da Praça da Figueira, símbolo vivo do nosso centro diverso e mercantil. Em tempo de democracia, foi agonizando o Mercado da Ribeira. A Praça da Figueira foi palco, entretanto, de novas ideias de reabilitação - mas de zero ideias de revitalização. O património de uma cidade continuou a ser visto apenas pelos espaços da pedra - e não pelos espaços das trocas, das relações, das ficções e dos abraços. Veja-se como se reabilitou o Mercado de Santa Clara, tirando-lhe os feirantes e deixando-o oco por dentro. Revelando bem a diferença abissal - inclusive no saber governar - entre reabilitar e revitalizar.Lisboa e Porto, Ribeira e Bolhão, centros-coração de um país distraído, pulsam todavia. Alguma coisa mudará, estou certo. A pouco e pouco, parecem finalmente desenvolver-se, nas nossas cidades, novas formas de cidadania e mesmo de atenção social e política. As notícias vindas do Norte também nos mostram como a cidade, apesar de cansada, e perante os riscos de lhe plastificarem a alma, está a reagir.

Caro Bolhão, coração central de uma cidade histórica, tens todas as condições para renascer - e para te tornares no centro de uma verdadeira onda de revitalização urbana. Como mostra da identidade e dos produtos frescos de uma magnífica região como é o Norte. E como âncora central de vibração urbana. Basta a tua cidade querer. Até podes ser exemplo para, a médio prazo, se conseguir colocar nas agendas políticas, definitivamente, a cidade. Assim, e daqui do Sul, vai um forte abraço. Não desistas, luta para que não te plastifiquem, e regenera-te finalmente, como deves e como podes: com a gente da tua cidade, e para a gente da tua cidade. As tuas esperanças são as nossas esperanças.

Artigo de Clara Ferreira Alves "O Bolhão que se f..."

"O Bolhão que se f...!"

de Clara Ferreira Alves (imagem retirada do Expresso)

EU GOSTO do Mercado do Bolhão, pedaço obrigatório do itinerário de qualquer campanha eleitoral. Apesar de todos irem lá mostrar os sorrisos às peixeiras do Bolhão, o Bolhão vai abaixo e as peixeiras que se f..., como diz uma delas. "E agora querem expulsar-nos daqui, f...-se!" Vamos lá ver, vamos lá ver se não. Se salvamos o Bolhão. As câmaras municipais, sobretudo as das grandes cidades, têm tendência para pensar que as cidades lhes pertencem e que se dobram aos seus desígnios. A participação dos cidadãos nas decisões de governo da cidade, e do governo dos bairros, é restrita e quase inexistente. A lassidão que entorpece os movimentos tem a ver com a mania de acharmos que compete ao estado resolver tudo e que nos limitamos a eleger funcionários políticos e a pagar impostos. Em Lisboa, é manifesto o desprezo dos lisboetas pela cidade, visível no modo como as ruas são tratadas como lixeira, cinzeiro do carro ou casa de banho canina. No modo como os parques e jardins são ignorados. No modo como os carros de fora da cidade invadiram a cidade e ocuparam todo o espaço disponível.


Uma cidade tem de ser habitada e vivida por dentro e os mercados são uma parte histórica da vida das cidades. As cidades não podem ser dadas nem vendidas a quem dá mais, nem a troco de milhões e ideias de "progresso" podemos alienar património que é de todos. Em Lisboa, vimos o desfecho da história do Parque Mayer e do Casino da Expo, e dos milhões pagos pela Estoril-Sol que ninguém sabe muito bem onde andam e para que servem. Vimos como um edifício público foi vendido a privados depois de modificada a lei pelo Governo sem que a cidade beneficiasse. Perdeu-se um edifício e ganhou-se um casino. O Parque Mayer lá está, decrépito, sem Frank Ghery e com ervas daninhas.


A lição do Parque Mayer e a da irresponsabilidade dos governantes não foi aprendida. No Porto, uma empresa holandesa propõe-se, com contrapartidas irrelevantes, um milhão de euros e um por cento dos lucros ao fim de 10 anos, ficar com a concessão do Bolhão por 50 anos e destruir todo o mercado deixando apenas a fachada, e "arrumando" os vendedores num andar como animais no zoológico, numa espécie de parque temático. Olhem e vejam o que era um mercado antigamente. O negócio é uma mina de oiro, lojas e habitação, estacionamentos, o costume. Mais um centro comercial onde já existem dois ou três, iluminados a luz branca, artificiais e clínicos, com as "franchises" do costume. Em Cascais, José Luís Judas decidiu tapar toda a frente marítima junto à estação de comboios instalando um mono na paisagem que é hoje um atentado civilizacional e patrimonial. Ninguém aprecia o mono, usam-no, apenas. Cascais, uma vila junto ao mar que podia e devia ter um mercado, ficou com mais um "shopping".

Em Lisboa, os mercados vão também acabando, "reconvertidos". Veja-se a morte da Ribeira, que era um mercado belíssimo para ir de manhãzinha e uma tradição que devia ter sido preservada e recuperada. A Câmara devia ter gasto dinheiro a tentar fazer os que se fez em Barcelona com La Boquería e com outros mercados, revitalizando os pontos de venda, investindo na formação e nas estruturas, abrindo restaurantes e balcões de comida, ajudando à recuperação do mercado como ponto de encontro cívico e humano e lugar de felicidade. E onde seja possível comprar flores e produtos frescos e escapar ao mundo liofilizado do hipermercado. Na Praça do Príncipe Real, em Lisboa, funciona um pequeno mercado de produtos biológicos que é um sucesso, com pessoas que ali se encontram, abastecem, tomam café, lêem o jornal, almoçam, passeiam e trazem as crianças e os cães para brincar. São lugares como este que devem preocupar as câmaras, lugares ao ar livre, vivos e vividos, sem música engarrafada nem falsos passarinhos que pipilam nas árvores de plástico. Este é o modelo. La Boquería é um dos lugares mais visitados e desfrutados de Barcelona, e lembra um bazar do Oriente, aberto e simples, cheio de coisas para comer e beber. Os mercados ao ar livre do Cairo ou de Telavive, de Mumbai ou de Londres, existem para nos lembrar um modo de vida mediterrânico e oriental, autorizado pelo calor e o clima. E, mesmo num clima frio, os mercados resistem porque fazem parte da vida da cidade. A destruição das Halles, em Paris, para construir aquele deprimente e mal frequentado "shopping", foi um erro urbanístico e gerou arrependimento. Em compensação, no bairro do Marais, apostou-se no comércio em pequena escala e na gastronomia ao ar livre, nos cafés de passeio. Nas cidades, o conservadorismo é um pensamento precioso.

Rui Rio tem governado até aqui como quis e muitas vezes contra a cidade. Se levar para a frente a sua intenção de se desfazer do Bolhão e assim autorizar a sua destruição, apesar do grande movimento cívico contrário, vai cometer o erro político da sua carreira. Pode ter a certeza de que a cidade perderá história e não ganhará progresso nem beleza. E a cidade não lhe perdoará. Terá o agradecimento da TramCroNe. Não chega. Com esta decisão, Rui Rio pode bem f...-se, com a devida licença e reticências. Tal como o Porto e o Bolhão.

quarta-feira, 5 de março de 2008

MINISTRO DA CULTURA QUESTIONADO NO PARLAMENTO

O Bloco de Esquerda, (deputados João Semedo e José Soeiro), formulou recentemente no Parlamento uma questão, ao Senhor Ministro da Cultura, sobre a Demolição do Mercado do Bolhão.

Grupo Parlamentar

Pergunta:
Assunto: Demolição do interior do Mercado do Bolhão na cidade do Porto
Apresentado por: João Semedo (BE) e José Soeiro (BE)
Dirigido a: Ministro da Cultura
Data: 14 de Fevereiro de 2008


" O Mercado do Bolhão é um dos edifícios mais emblemáticos da cidade do Porto. Construído entre 1914 e 1917 sob a direcção do arquitecto António Correia da Silva, o Mercado do Bolhão tornou-se rapidamente um símbolo da identidade da cidade do Porto, para o que muito contribuiu a bem característica actividade dos e das comerciantes e mercadores/as nele instalados.
Na década de 90 e com vista à necessária execução de obras de conservação e de reabilitação do imóvel, a Câmara Municipal do Porto aprovou, após concurso público, um projecto da autoria do Arqº Joaquim Massena, o qual previa a manutenção do mercado de comércio tradicional, acrescentando novas valias ao edifício.
Mais recentemente, e por decisão da mesma Câmara Municipal, o Mercado do Bolhão foi desafectado do domínio público, passando para o domínio privado do município e foi lançado um outro concurso público, agora de concepção, projecto, construção e exploração daquele espaço. Isto apesar do município do Porto ter aprovado (e pago) o já referido projecto de reabilitação de 1998.
Como é do conhecimento público, o promotor TramCroNe, vencedor do concurso lançado em Junho de 2006, para além de reservar para mercado de frescos apenas ¼ da área actual, prevê a demolição de todo o interior do Bolhão, até "para assegurar a rentabilidade económica do investimento". Ora tal actuação, a concretizar-se, será um desrespeito absoluto pelo património arquitectónico e cultural da cidade do Porto, um atentado à sua memória e identidade.
Lembramos que o Mercado do Bolhão, pelas suas linhas arquitectónicas e pelas funções económicas e sociais que nele se exercem, encontra-se em vias de classificação, como Imóvel de Interesse Público, conforme despacho de 30/11/1994 do IPPAR e homologação de 22/02/2006 da Senhora Ministra da Cultura.


Assim, importa assegurar que o IPPAR/IGESPAR não emita qualquer decisão que autorize a demolição do interior do Mercado do Bolhão ou qualquer outra obra que ponha em causa o regime de protecção daquele imóvel.

Face ao exposto, e ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, solicitamos ao Senhor Ministro da Cultura, com a maior urgência, a resposta às seguintes questões:

Tem o Ministério da Cultura conhecimento do projecto do promotor TranCroNe relativamente ao Mercado do Bolhão, na cidade do Porto ?
Que medidas pensa o Senhor Ministro da Cultura tomar para assegurar que o projecto em causa esteja de acordo com os conceitos arquitectónicos internacionalmente reconhecidos para a reabilitação do Património ?
Pretende ou não o Ministério da Cultura intervir no sentido de garantir a protecção que a lei e o relevo patrimonial e cultural do Mercado do Bolhão impõem?

Lisboa, 14 de Fevereiro de 2008

Os Deputados do Bloco de Esquerda

segunda-feira, 3 de março de 2008

"Massena pede "lisura" a Rio e diz que recusou convite da TCN para fazer novo projecto para o Bolhão"

Hoje, no Jornal Público, o arquitecto Joaquim Massena, anunciou que foi contactado há uns meses pela empresa imobiliária TCN, para fazer o projecto de execução do Mercado do Bolhão, convite esse que recusou.

Refere o artigo :

"Joaquim Massena acusa Rui Rio de tentar desacreditá-lo por via dos honorários recebidos, que não foram aqueles, e pede-lhe "lisura", sublinhando que, se o seu interesse pelo Mercado do Bolhão fosse de natureza financeira, não teria recusado o convite da TramCroNe (TCN) para fazer o projecto de execução da reconversão do mercado que a autarquia decidiu concessionar por 50 anos."

Refere ainda o artigo :

"O arquitecto revela que, em 2001, num mês que não soube precisar, foi sondado para assumir uma assessoria na câmara relacionada com a remodelação do Mercado do Bolhão e que recusou, explicando que o seu projecto estava concluído e que, como autor, estaria sempre disponível para prestar qualquer apoio sem remuneração suplementar."

"Joaquim Massena pede ainda uma "linguagem de verdade" a Rui Rio, referindo-se à afirmação reiterada do autarca de que o Bolhão não será demolido. "Pedro Neves da TCN diz que a demolição do interior é inevitável. A TCN quer construir três lajes no interior do Bolhão", argumenta."

Artigo em Público.pt