sábado, 6 de dezembro de 2008

"Assembleia da República quer o Governo a acompanhar intervenção no mercado do Bolhão"

Notícia 6 de Dezembro de 2008
última hora no Jornal Público
por Margarida Gomes


"Por iniciativa do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda (BE), a Assembleia da República aprovou hoje em plenário um projecto de resolução que recomenda ao Governo que acompanhe “o processo relativo à concepção, projecto, construção e exploração do mercado do Bolhão”, um dos edifícios mais emblemáticos da cidade do Porto.

O requerimento hoje aprovado em defesa do Bolhão foi apresentado em Julho deste ano, no auge da contestação à intervenção defendida pela Câmara do Porto, entretanto suspensa, com vista à reabilitação de todo o interior do mercado, considerado como “uma obra pioneira na utilização do betão armando conjugado com estruturas metálicas e outras técnicas construtivas inovadoras”.

Alertava o requerimento que a concretização do projecto da TramCrone, o promotor que venceu o concurso para a reabilitação do mercado, “constituirá um absoluto desrespeito pelo património arquitectónico e cultural da cidade do Porto, um atentado à sua memória, história e identidade”.

Com a aprovação deste requerimento, que contou com os votos favoráveis do PS, BE, PCP e Verdes e contra do PSD e do CDS-PP, fica acautelada uma questão considerada essencial pelo Bloco: “a não descaracterização e demolição do mercado do Bolhão”, ficando também salvaguardada a “sua protecção e valorização, quer arquitectónica quer funcional”. Da mesma forma, ficam também “acautelados os interesses dos comerciantes que operam no interior e no exterior do imóvel”.

Colocando a questão na “séria ameaça de demolição” do imóvel, o BE puxou da lei para lembrar que “o Estado e os seus órgãos e serviços não podem deixar de exercer as acções que a Constituição e a lei lhes impõem em matéria de interesse cultural relevante, como é o caso do mercado do Bolhão”. Ao mesmo tempo, referia que o Estado e os seus órgãos e serviços “têm que intervir decididamente quando está em causa um bem que, sendo testemunho com valor de civilização ou de cultura, é portador de interesse cultural relevante como é o caso do mercado do Bolhão”.

Construído entre 1914 e 1917, sob a direcção do arquitecto António Correia da Silva, o edifício do mercado do Bolhão, além de ser um importante “edifício Beaux-Arts”, constitui também um dos mais belos quarteirões da baixa oitocentista, pela sua localização, e pela actividade tão característica dos comerciantes e vendedoras nele instalados”. Por todas estas razões, “o Bolhão tornou-se rapidamente um símbolo da identidade da cidade do Porto.O requerimento hoje aprovado foi discutido previamente numa comissão parlamentar especializada.

2 comentários:

Philipp disse...

Desculpem, mas lá pelo governo central "acompanhar" o processo do Bolhão vai garantir que este seja bem feito? Sabem lá eles o que é o Bolhão...
Parece-me um pouco redutor para o Porto render-se às decisões de Lisboa para um edifício municipal.
cumprimentos

Anónimo disse...

É importante pela ressonãncia que tem a decisão parlamentar.Deve chamar-se a atenção para o escândalo vergonhoso que é o de continuar a pretender-se não aceitar um projecto de arquitectura existente, premiado num concurso público por um júri cujo presidente era o Siza Vieira, totalmente equilibrado com as necessidades do Bolhão e que já foi pago pela Câmara do Porto. A impressão com que ficamos todos é que, afinal, os concursos públicos não servem para nada. O esforço e a integridade de algumas pessoas que se dedicam à arquitectura são indesculpavelmente desprezados. Rui Rio tem desde sempre um projecto adequado ao que se pretende para o Bolhão e no entanto sempre o desprezou. Ainda ninguém percebu porquê. O ele dizer que está "desactualizado" é uma falsidade que só lhe aumenta o descrédito. Deveria o arquitecto Joaquim Massena inscrever-se nalgum dos partidos que vão fazendo as nossos tristes folhetins? O Bolhão ganhou. Venceu o espírito da cidadania, mas quanto não teria já ganho a cidade do Porto se o projecto aprovado pela Câmara ao tempo de Fernando Gomes tivesse já sido mandado executar há anos? Tantas vergonhas cheiram mal.