sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Se o Bolhão falasse...

Manuel Correia Fernandes, Arquitecto
Bolhão era o nome do lugar onde foi construído o mercado que hoje dá por esse mesmo nome. E, tal como a Torre dos Clérigos ou a Ponte Maria Pia, o Bolhão é um ex-líbris da cidade. Porém, se, nestes casos, o que conta é, essencialmente, a arquitectura, no caso do Bolhão, o que conta é aquele "lugar" específico. Não é que a arquitectura seja má ou irrelevante. Não. A arquitectura é de grande qualidade como, alias, quase tudo o resto, neste "lugar" mítico da cidade!Embora apoiado, na sua maior extensão, numa das mais modernas ruas da cidade, a Rua de Sá da Bandeira, o mercado tem mais três frentes para outras tantas ruas, sendo que a principal é, claramente, a que está voltada para a Rua Formosa. As outras duas são as das ruas de Alexandre Braga, do lado nascente, e de Fernandes Tomás, do lado norte. Esta é, por seu lado, a frente menos elaborada e a de menor expressão arquitectónica, funcionando claramente como "traseira". Isto é evidente, inclusivamente, na menor importância dada ao tratamento dos ângulos do edifício que, por exemplo, ao nível da cobertura, não possui as cúpulas que só existem nos gavetos do lado sul. Podemos, assim, notar que a importância das quatro portas, traduzida nos elementos arquitectónicos que lhes correspondem, está claramente hierarquizada a partir da porta da Rua Formosa (a principal), seguindo-se as de Sá da Bandeira e de Alexandre Braga (laterais) e, finalmente, a da Rua de Fernandes Tomás (traseira). Entende-se que assim seja, uma vez que, à época da construção do mercado, as ruas acima da Formosa estavam ainda em formação que apenas viria a ser concluída em meados do século passado. Hoje, no entanto, a situação é diferente e esta hierarquia já não fará muito sentido, mas foi assim que o espaço do mercado foi organizado e esse é, também, um elemento e um sinal que evoca uma memória da cidade e da forma como esta cresceu e se foi dispondo no espaço e no tempo. Mas não é só de arquitectura que o mercado vive. O Bolhão é uma "instituição" da cidade, também pelas funções que lhe estão associadas, pelos sinais característicos de vivências sociais muito específicas que contém e, ainda, pelo papel simbólico que equipamentos deste tipo sempre têm nas cidades e que jamais devem perder porque se trata de valores verdadeiramente patrimoniais. E, nesta matéria, o Porto não é excepção. O Bolhão é notável, ainda, pela capacidade que tem demonstrado para resistir ao assalto da concorrência, pela "centralidade" que marca um "lugar", pelo suplemento de alma que dá a uma "Baixa" em dificuldades, pelo fascínio que têm as vivências que ali têm lugar e, finalmente, pela vida e pela actividade que gera à sua volta.Mas tudo isto e o muito mais que poderia invocar-se, "em defesa da sua honra", parece que não basta para o proteger da insensibilidade de quem insensatamente o condena a transformar-se num vulgar "centro comercial" ainda que por motivos aparentemente estimáveis. O Bolhão está, é certo, em mau estado, mas a culpa não é do mercado, não é de quem diariamente o usa e, muito menos, de quem lhe dá vida e sentido todos os dias. A culpa é de quem tem por missão olhar por ele e pela cidade que, ainda por cima, diz querer reabilitar, e de quem olha para ele com os turvos olhos do "tio Patinhas" que são os olhos que neste momento não lhe saem de cima. É caso para dizer por favor, deixem o mercado trabalhar! Deixem-no ser o que sempre foi e deve continuar a ser. "Façam--me obras", claro, mas deixem-me em paz, diria o mercado… se falasse.

http://jn.sapo.pt/2007/11/30/porto/se_o_bolhao_falasse.html

1 comentário:

maria helena almeida disse...

Mercado do Bolhão fica na Freguesia de Santo Ildefonso, ocupa todo um quarteirão e foi reconstruído em 1850 no mesmo local onde existia um antigo mercado.

O edifício tem uma planta rectangular alongada com três pisos e possui um grande pátio central subdividido em dois espaços exteriores por uma galeria coberta de dois pisos.

No seu espaço central há um chafariz com quatro bicas.

A fachada principal está voltada a Sul e apresenta, no centro, um frontão com um brasão ladeado por esculturas, obras de Bento Cândido da Silva.

Este exemplar de arquitectura civil comercial, apresenta características do estilo neoclássico tardio, e a monumentalidade, criada pelos torreões nas esquinas, contrasta com as linhas horizontais marcadas nas superfícies das fachadas.
O Mercado do Bolhão é um dos mercados mais emblemáticos da cidade do Porto. A construção caracteriza-se pela sua monumentalidade, própria da arquitectura neoclássica. Perante estes factos, ficamos a perceber que por detrás disto tuido há interesses politicos e não podemos ficar de braços cruzados. Temos de lutar por algo que é nosso e é património da nossa querida cidade do Porto. Estarei junta com todos para LUTARMOS CONTRA A DEMOLIÇÃO DO BOLHÃO.
TODOS JUNTOS VENCEREMOS.